Já vimos alguns tipos de perguntas difíceis: as que empregam palavras estranhas ao vocabulário dos respondentes (Dica nº 6), as que tratam de questões que os respondentes desconhecem ou pelas quais não se interessam (Dica nº 7) e as que puxam pela memória dos respondentes (Dica nº 8). Outra forma de fazer perguntas difíceis é (tentar) obrigar o respondente a fazer cálculos para responder. Dê uma olhada nas perguntas a seguir, fiel leitor.
Que fração do tempo total de viagem você passou no aeroporto, aguardando o seu voo?
Que porcentagem da sua despesa mensal é gasta com alimentação?
Quanto você gastou no ano passado com a educação de seus filhos, considerando matrícula, mensalidades escolares, material didático e paradidático, uniformes, professor particular, etc.?
Observe, dileto leitor, que, teoricamente, os respondentes poderiam ter as respostas, mas, caramba, o que será que se passava na cabeça do sujeito que formulou essas perguntas? Então ele acha mesmo que alguém vai se dar ao trabalho de calcular o tempo total de viagem e dividir por ele o tempo gasto no aeroporto de partida? Em que planeta vive esse indivíduo? Por que não perguntar simplesmente o tempo de espera no aeroporto e fornecer faixas de tempo como opções de resposta?
E o que dizer do custo relativo da alimentação? Então o respondente terá que calcular o que gasta em supermercados, padarias, açougues, restaurantes, barzinhos, etc. e dividir o total calculado pelo que gasta com isso tudo mais com todo o resto?
E quanto aos gastos na educação dos filhos: o pobre respondente teria que computar uma montoeira de parcelas e somar. Será que ele estará disposto a isso? Será que fará direito?
Indo direto ao ponto, o que eu quero dizer é: os respondentes são nossos “amigos” (veja o Fique Esperto nº 10). Lembre-se de que, ao submetê-los a um questionário, você está se intrometendo na vida deles; eles estão lhe dando o seu tempo, a sua atenção, a sua confiança e, muitas vezes, informações pessoais. Com as suas respostas, eles nos ajudam – e muito – a conhecer situações, a observar problemas (às vezes até a antecipá-los) e a propor possíveis soluções para esses problemas. Nós, consultores de pesquisa, temos é que agradecer a eles por essa ajuda. Você acha que é dando trabalho para eles que vamos mostrar a nossa gratidão? Pense bem.
Conclusão: a menos que o público-alvo da sua pesquisa seja formado por aficionados em matemática ou por loucos por números em geral, deixe de fora do seu questionário perguntas que envolvam esforço de contas, combinado?